Imagem: Volkan Olmez (Unsplash) |
Quinta é o meu dia preferido da semana. Não me pergunte o motivo, simplesmente é. Eu tenho um costume (besta) de associar cores aos dias da semana, e quinta sempre foi roxa pra mim. Roxo é a minha cor favorita :) sem contar que é o quinto dia semana, e meu número favorito é 5… Enfim, quinta é um dia lindo e por isso a partir de hoje toda quinta irei publicar pequenos contos, diálogos, crônicas e opiniões. Quero dividir um pouco desse meu lado com vocês, o de “aspirante a escritora”.
Lembrem-se que o feedback é sempre bem-vindo, ok? Se quiser opinar sobre qualquer um dos meus textos, fique à vontade :) A partir da semana que vem vou sempre introduzir o texto com um parágrafo explanatório, para que quem chegue pela primeira vez no post não fique perdido.
Espero que gostem :}
[Conto] Insônia
Acordo de sobressalto, são duas da manhã. Lá fora o céu está negro, sem lua e sem estrelas. Olho para o lado, na esperança de encontrar a sensação morna da cama ocupada por mais alguém, mas o que vejo são apenas um lençol e um travesseiro amassado, marcas remanescentes do passado. Não choro, não tento ocupar todo o espaço ao meu lado ou abraçar o vazio. Fico apenas ali, contemplando o nada.
Levanto. Não há o que fazer quando a insônia ataca. Vou até a cozinha, decido preparar um chá. Café nunca foi o meu preferido, provavelmente porque sempre achei uma bebida de gente amarga. E no momento não me sinto amarga, e sim entorpecida, apática. A chaleira começa a emitir um som agudo, indicando que a água está quente. Desisto do chá no momento em que ponho a água na xícara. A quem eu quero enganar, afinal? Nada vai me fazer melhorar, por mais que eu tente. Neste momento a ideia mais estúpida passa pela minha cabeça. Visto um jeans escuro e a primeira camiseta que encontro perto da cama, levando comigo uma coleção antiga de livros policiais.
Dirijo até o bairro tão estranhamente conhecido por mim, virando quase sem pensar à direita, depois à segunda esquerda, e novamente à direita na esquina do posto de gasolina. Chego ao fim da rua, na frente daquele prédio antigo, e toco o interfone de um número desconhecido. A pessoa do outro lado da linha não se incomoda em perguntar quem é, simplesmente destrava a tranca da porta do prédio, e eu entro. Sétimo andar. Apartamento 71B.
Toco a campainha, imediatamente arrependida por ter chegado até ali. São três e quinze de uma madrugada de sexta, ninguém de vinte e poucos anos está em casa a essa hora. Surpreendo-me ao ouvir passos do outro lado da porta do 71B. Passos arrastados e obviamente sonolentos. Tem alguém vindo abrir.
Eis que uma luz amarelada e suave surge da fresta aberta da porta, e vejo uma figura esguia e feminina aparecer, enrolada em um lençol e com um rosto levemente avermelhado, resultado da provável ingestão de álcool. Cabelos num tom de ruivo natural, olhos que percebo serem verdes apesar da penumbra e do restante de rímel e sombra escura que restam em seu rosto; e mesmo com os cabelos desgrenhados, ela é linda.
- Quem é você? – ela pergunta com uma voz desconfiada.
- Oi, sou sua vizinha do 83D, encontrei esses livros aqui na frente da sua porta e resolvi bater para ver se havia alguém em casa. Sei que já é tarde e já me desculpo pelo incômodo, mas poderia ser alguma encomenda import-
- Ah, sim, devem ser do Bruno – ela interrompe, claramente impaciente. – Ele costuma ler muito. Acho uma baboseira, mas ele gosta, fazer o quê. Obrigada pela gentileza, mas a gente precisa voltar a dormir. Boa noite.
E ela começa a fechar a porta, não sem antes eu ver o rosto do qual eu senti tanta falta, o rosto que eu vim procurar, por trás dela, provavelmente perguntando a si mesmo quem diabos bate à porta de um vizinho em plena madrugada. Nosso olhar se cruza numa fração de segundo antes de a porta se fechar, e eu sei que ele me reconheceu.
- De nada. Se puder, avisa pro Bruno que eu vim pedir desculpas, mais uma vez – sussurro para a porta já trancada à minha frente.
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