Sonder

quinta-feira, 23 de julho de 2015
Imagem: Jez Timms (Unsplash)



 Este post faz parte do projeto Escrita Criativa, criado para reunir pessoas que amam escrever. Todo mês são propostos temas para que os participantes escrevam textos a respeito. O tema do mês de Julho é Um Estranho na Rua.

Certa vez li em um algum lugar a palavra sonder. Fiquei interessada em saber seu significado, e o que descobri foi um tanto quanto curioso:
Sonder, palavra de origem alemã, é a realização de que qualquer indivíduo que passe aleatoriamente por você está vivendo uma vida tão intensa e complexa quanto a sua.
Percebi que tenho surtos de sonder a todo o momento. Quando ando pelas ruas, o que mais sinto é a percepção de que todos que cruzam comigo estão passando por dilemas, momentos difíceis, conquistas etc.

Como quando algum homem bem vestido pega o mesmo elevador que eu: geralmente olhando para o relógio, pasta na mão, cabelos cortados e penteados com destreza, entra e sai do elevador com pressa, indo para seu escritório ou a caminho de uma reunião importante. Ou pelo menos é o que eu imagino quando ele sai. Mesmo que por alguns segundos, é difícil não pensar um pouco em como deve ser a sua vida, sempre na correria, com compromissos durante o dia todo, sem tempo nem para respirar direito. Me entristece um pouco, mas também me dou conta de que ele pode ser um workaholic e amar aquele estilo de vida.

O mesmo acontece quando cruzo com catadores de papel ou latinhas: fico imaginando suas jornadas diárias, tentando conseguir alguns reais no final do dia, quem sabe para comprar o arroz e feijão do jantar. Também penso que aquilo ali pode dar um dinheiro danado (em mais de uma ocasião me disseram que é possível tirar um salário todo mês só catando papel).

Já me imaginei parando pessoas aleatórias só pra perguntar: pra onde você está indo? Qual é seu objetivo hoje? Trabalhar? Estudar? Procurar emprego? Mas sei que isso é um tanto quanto psicótico e eu assustaria as pessoas, então seguro essa vontade que às vezes me domina.

Não suporto lugares cheios de gente. Quando vejo imagens da estação da Sé em horário de pico, sinto até um aperto no peito. Mas ao mesmo tempo, fico fascinada quando imagino a quantidade de vidas que se cruzam naquele ponto, vidas que provavelmente nunca se cruzarão novamente. E isso me faz pensar em destino, em Deus, e claro, no tal do sonder.

Acho que é bom ter essa percepção de que não estamos sozinhos. Que não importa o quão difícil esteja a vida, você não é o primeiro e nem será o último a passar pelo que está passando. Que estamos todos no mesmo barco, alguns começando agora, outros no fim de sua jornada. E é isso que torna a vida tão única.


6 comentários:

  1. Gostei muito do seu texto.
    Nos faz pensar se realmente somos únicos a ponto de ignorar o próximo.
    Beijos
    ♥ Te Conto Poesia

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    1. Oi, Camila! Fico feliz que tenha gostado e refletido a respeito. Obrigada pelo comentário, beijos!

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  2. Olá, nao conhecia esse projeto ainda, gostei bastante, amo alemão, mas sei muito pouco e não conhecia essa palavra, gostei dela e do significado... vez em quando também me pego pensando "para onde será que essa pessoas está indo? o que ela faz da vida?" coisas assim, mas realmente, abordar as pessoas do nada, seria um tanto assustador rs . bjs
    www.monicadk.com

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    1. É engraçado né, quando a gente vê já tá pensando coisas assim de todo mundo que cruza com a gente rs

      Beijos e obrigada pelo comentário! :*

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  3. A vontade de tatuar essa palavra agora bateu forte

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