Resenha | Presos que menstruam

quinta-feira, 17 de agosto de 2017
Autora: Nana Queiroz
Editora: Record
Páginas: 294
Ano: 2015
Classificação:

Skoob

SinopseCarandiru feminino. A brutal vida das mulheres tratadas como homens nas prisões brasileiras.
Grande reportagem sobre o cotidiano das prisões femininas no Brasil, um tabu neste país, Nana Queiroz alcança o que é esperado do futuro do jornalismo: ao ouvir e dar voz às presas (e às famílias delas), desde os episódios que as levaram à cadeia até o cotidiano no cárcere, a autora costura e ilumina o mais completo e ambicioso panorama da vida de uma presidiária brasileira. Um livro obrigatório à compreensão de que não se pode falar da miséria do sistema carcerário brasileiro sem incorporar e discutir sua porção invisível. Presos que menstruam, trabalho que inaugura mais um campo de investigação não idealizado sobre a feminilidade, é reportagem que cumpre o que promete desde a pancada do título: os nós da sociedade brasileira não deixarão de existir por simples ocultação – senão apenas com enfrentamento.
Nana Queiroz é conhecida por ser a criadora do movimento #NãoMereçoSerEstuprada, que mobilizou milhares de mulheres pelo Brasil e colocou o feminismo em evidência, levando mulheres a protestarem através da internet e até mesmo em Brasília, em frente ao Planalto Central. Portanto ela tem cacife o suficiente para expor a situação muitas vezes decadente que mulheres de diversos cantos do país são obrigadas a viver nas penitenciárias brasileiras. E em Presos que Menstruam, a verdade é explorada da maneira mais crua e direta possível, e já sabemos desde o primeiro capítulo que a jornada não será nada fácil.

A autora entrevistou várias mulheres, viajando por todas as regiões brasileiras para ver de perto como é a vida de nossas presidiárias. O livro é como uma grande reportagem, porém Nana utiliza várias vezes de recursos narrativos que acabam assemelhando a maioria das histórias à ficção. No início, achei esse recurso muito interessante, porém, depois de algum tempo, acabou me cansando um pouco.

Há uma alternância entre os capítulos, que falam sobre uma mulher por vez mas sempre acabam retornando a alguma outra já citada em capítulos anteriores. É um pouco confuso e até desestimulante, já que quando achamos que a história de uma mulher acabou, na verdade descobrimos que foi só um fragmento e que a veremos novamente.

Porém, fora estes pequenos problemas que tive, achei a escrita de Nana muito boa. Ela nos envolve e consegue despertar profundamente a nossa empatia, ainda assim se mantendo imparcial de alguma forma. Imagino como esta imparcialidade deva ter sido difícil para a autora, já que, como mulher, ela provavelmente se colocou no lugar de várias de suas entrevistadas.

O livro desperta nosso senso crítico e nos faz questionar nossos princípios. Em alguns momentos, você vai se pegar pensando que está "defendendo bandido"; e em outros, vai conseguir perceber que nem sempre o desvio que leva alguém a cometer um crime vem de algo ruim que nasce com a pessoa. Questões sociais e do meio podem ser muito mais cruciais do que o caráter.

Recomendo a leitura e aconselho que seja feita em grupo ou como buddy read, já que você vai sentir a necessidade de compartilhar seus pensamentos ao final da leitura, tenho certeza! Essa foi minha segunda leitura com o projeto Piquenique Literário e a Thaís está de parabéns por ter promovido mais um evento incrível e com um debate super relevante.

Beijos e até o próximo post :*

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