Resenha | O Conto da Aia

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Autora: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Páginas: 368
Ano: 2006
Classificação:


SinopseEscrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano.
Há livros que passam pelas nossas vidas não para nos ensinar algo, mas sim para entreter e nos deixar com um sorriso no rosto no final. 

Mas também há livros que causam mais impacto que um soco, que chocam e nos atordoam e nos deixam sem chão; que transmitem mensagens atemporais, daquelas que guardaremos pra sempre. E posso afirmar com toda a certeza que O Conto da Aia se encaixa nessa segunda categoria.

A obra se passa num futuro pouco distante, na região em que se encontrava os Estados Unidos e que hoje é chamada de Gilead. Acompanhamos nossa protagonista e narradora Offred, que nos conta um pouco sobre esta sociedade, suas leis, hierarquias e costumes. Offred faz parte da primeira geração de Aias, portanto ainda possui muitas lembranças do mundo antes de Gilead ser estabelecida. Ao acompanhar seu relato, conseguimos visualizar bem a transição entre o mundo que conhecemos e o que passou a existir após as mudanças determinadas pelo governo.

Desde o início da história, simpatizei muito com Offred. Ela não é uma heroína perfeita e sim uma mulher comum, com seus medos e erros passados que ainda a assombram. Algumas de suas atitudes podem ser consideradas como covardes, mas por vezes me coloquei no lugar dela e refleti sobre o que eu faria nas situações que ela passou. Duvido que seria muito diferente.

Não quero falar muito sobre a jornada de Offred pois considero que qualquer explicação possa ser spoiler. No começo confesso que fiquei um pouco perdida pois ela divaga bastante mesmo em situações banais, o que é compreensível pois vive em constante repreensão física e psicológica. Algumas pessoas podem achar a escrita lenta, mas eu achei bem fluida e fácil de acompanhar.

Maragaret Atwood construiu um mundo patriarcal perfeito, onde mulheres são classificadas de acordo com seu valor na sociedade (valor esse determinado por um conselho todo formado por homens). As mulheres de Gilead precisam conviver com o medo constante de não serem boas o bastante para os homens, além de precisarem aceitar que nunca poderão ser algo além do que foram determinadas para ser, somente algo inferior.

Marthas, Tias, Esposas, Econoesposas, Aias. Todas ensinadas a desempenharem um único papel, a se comportarem de um único jeito, pelo bem de uma sociedade que estava em decadência e encontrou nas mulheres uma maneira de colocar ordem no mundo, da maneira mais controladora possível.

Mesmo após a discussão que participei no Piquenique Literário de julho, não acho que a realidade de Gilead possa ser algo possível no futuro. Porém considero O Conto da Aia como um alerta. Um alerta do que o extremismo pode fazer com uma sociedade quando o machismo e a intolerância dominam o povo, quando a liberdade de todos é privada, baseada apenas em um ponto de vista.

Nós, mulheres, precisamos estar atentas. O estado quer dominar muitas de nossas escolhas e nos culpar por não seguir o que se espera de nós, de acordo com o senso comum. Até pouco tempo atrás não tínhamos nem como escolher nosso nome ao casar (e as Aias também mudam seu nome ao entrar para uma nova família, sua identidade deixa de existir). São muitos os exemplos que posso dar para traçar um paralelo entre a nossa sociedade atual e a criada por Atwood. E é fascinante observar como a autora teve uma visão tão ampla e assertiva sobre o extremismo mesmo lá em 1985, ano de lançamento da obra. Isso só mostra como comportamentos semelhantes sempre existiram e ainda podem existir por muitos anos. Cabe a nós resistir e não permitir que isto se torne regra.

Eu poderia escrever muito mais sobre O Conto da Aia. Poderia discorrer por horas sobre os simbolismos, as reflexões e os tapas na cara que recebi durante a leitura. Esse livro me mudou; me despertou para situações que eu sempre soube que existiam, mas não dava a devida atenção. Offred e eu tivemos uma sintonia que eu não sentia há muito tempo com algum personagem e já estou com saudades dela e de sua história.

Agora pretendo assistir The Handmaid’s Tale e comprovar todo o hype, espero que a minha experiência seja tão positiva quanto foi com o livro ♥

Beijos e até o próximo post!

2 comentários:

  1. Oi, compartilho de todas as suas opiniões. Eu mal tinha lido algumas páginas e já considerei o livro como um dos favoritos da vida, fui arrebatada pela autora logo de cara! Sua resenha está linda e faz jus a essa obra maravilhosa que foi minha melhor leitura do ano até agora. Parabéns! Beijos

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    Respostas
    1. Obrigada, Vanessa! Fico feliz em saber disso porque fiz a resenha com muito carinho. Uma das melhores leituras da vida mesmo! Beijos

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