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Resenha | Jantar Secreto

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Autor: Raphael Montes 
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 360
Ano: 2016
Classificação:

Skoob

Sinopse: Um grupo de jovens deixa uma pequena cidade no Paraná para viver no Rio de Janeiro. Eles alugam um apartamento em Copacabana e fazem o possível para pagar a faculdade e manter vivos seus sonhos de sucesso na capital fluminense. Mas o dinheiro está curto e o aluguel está vencido. Para sair do buraco e manter o apartamento, os amigos adotam uma estratégia heterodoxa: arrecadar fundos por meio de jantares secretos, divulgados pela internet para uma clientela exclusiva da elite carioca. No cardápio: carne humana. A partir daí, eles se envolvem numa espiral de crimes, descobrem uma rede de contrabando de corpos, matadouros clandestinos, grã-finos excêntricos e levam ao limite uma índole perversa que jamais imaginaram existir em cada um deles.

Raphael Montes já não é mais um novato na literatura nacional. O autor carioca já publicou quatro livros e vem ganhando inúmeros fãs pelo Brasil e até em outros países em que seus livros ganharam tradução. Em seu mais novo trabalho, intitulado Jantar Secreto, somos levados a uma história macabra que tem como o tema principal o canibalismo. Eu não acho que deixar isso claro logo de cara seja spoiler, até porque a capa e a sinopse entregam facilmente sobre o que a obra vai tratar.

Jantar Secreto aborda a jornada de quatro amigos que se conhecem desde crianças. Dante é um deles e o narrador da obra, e nos conta seu ponto de vista sobre os acontecimentos, com um tom de confissão. Desde o início da obra já sabemos que algo muito ruim aconteceu. A graça é saber como as coisas chegam a tal ponto, sendo que no início nem fazemos ideia do que pode acontecer. E acreditem, vai tudo ladeira abaixo.

Eu acho difícil falar da história sem soltar nenhum spoiler, acho que a sinopse já entrega o suficiente e consegue situar o leitor a atiçar a curiosidade de quem curte livros mais grotescos. No início da obra, Raphael nos situa contando um pouco do background dos amigos e em como chegaram ao ponto de ruptura que os levou a começar com os tais jantares. Cada um dos amigos é bem distinto um do outro e empenha um papel diferente no desenvolvimento do enredo. Temos aquele que se sente culpado, outro que só pensa no retorno financeiro, outro que apenas liga o f-se… Mas no fundo, achei todos bem babacas.

Falando ainda dos personagens, há um pouco de diversidade no grupo. Não são apenas caras brancos e ricos. Temos um gordo e um gay, e por mais que eu acredite que a representação de ambos não seja das mais corretas, é bom ver pessoas fora do padrão como protagonistas de livros “adultos”, ao invés de YA.

As cenas mais pesadas são bem nojentinhas sim, mas nada que tenha me traumatizado (como carne e provavelmente vou continuar comendo). É clara a tentativa de “doutrinação” do autor, que acredito que não seja vegetariano. Vários personagens reiteram que carne é só carne no final das contas, independente de onde ela venha, e que se você se sente mal com o canibalismo deveria ter dó dos bois também. Mas qualquer um em sã consciência sabe que o buraco é bem mais embaixo, e a ética (quase) sempre vai falar mais alto se pararmos para pensar. Não vou entrar em detalhes para não me estender, mas eu vejo como dois pesos e duas medidas.

O que me fez não gostar tanto assim de Jantar Secreto foi o Deus ex-machina que Raphael põe em prática, algo que eu já tinha visto acontecer em Dias Perfeitos. São muitas situações convenientes para os personagens, o que torna a obra uma ficção quase surreal, que pra mim soou bem distante da nossa realidade atual. Não sou ingênua a ponto de dizer que algo semelhante jamais aconteceria*, mas acho que a construção da “situação” é que foi pouco convincente.

Mas a escrita do autor é ótima e evoluiu muito em relação a Dias Perfeitos. Os diálogos soam reais e não há muitas firulas. Uma cena em especial é apresentada através de uma conversa de Whatsapp, e é um dos pontos altos do livro!

Recomendo a leitura para os fãs do autor ou para aqueles que quiserem conhecer seu trabalho, mas se seu estômago é fraco, melhor optar por alguma outra obra de Raphael.

Beijos e até o próximo post!

Resenha | Para Poder Viver

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Autora: Yeonmi Park
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 328
Ano: 2016
Classificação:

Sinopse: Em narrativa memorável, uma jovem norte-coreana conta como escapou de uma das mais sanguinárias ditaduras do planeta.Yeonmi Park não sonhava com a liberdade quando abandonou a Coreia do Norte. Mas sabia que fugir era a única maneira de sobreviver à fome, às doenças e ao governo repressor. Este livro é a história da luta de Park pela vida. O leitor acompanha sua infância no país mais sombrio do mundo. Em seguida, testemunha sua fuga, aos treze anos, pelo submundo chinês de traficantes e contrabandistas. Emociona-se com seu périplo pela China através do deserto de Gobi até a Mongólia, guiada pelas estrelas, em direção à Coreia do Sul. Vibra com seu papel como ativista pelos direitos humanos. Antes dos 21 anos, Yeonmi acumulou experiência suficiente para encantar todas as gerações de leitores neste livro memorável.
Se você acompanha as notícias, mesmo que com pouca frequência, já deve ter ouvido falar na política da Coreia do Norte. Pouco se sabe através de provas concretas, mas vez ou outra aparecem indícios de que campos de concentração são uma realidade para o povo norte coreano, além da existência de bases nucleares. Isso sem falar no total controle aparente que a população vive, incapaz sequer de deixar o país por conta própria.

Em Para Poder Viver, conhecemos a história de Yeonmi Park, uma jovem norte coreana que conseguiu escapar das garras do governo totalitarista da dinastia Kim, governo este que já dura décadas. Yeonmi nos conta com detalhes como foi sua infância na CN e sua fuga, já na adolescência. Já adianto que é uma história extremamente dolorosa e triste, que vai falar ainda mais profundamente com as mulheres devido aos horrores que Yeonmi e sua mãe tiveram de enfrentar. Mas todo o sofrimento é necessário para que possamos sentir empatia e compreender o quão séria é a situação deste país terrível.

A narrativa de Yeonmi é simples e possui tom de conversa. Apesar de ter amadurecido muito durante sua jornada, ela mostra em sua escrita um quê de ingenuidade ainda presente ao descrever as situações mais difíceis. Estupro, tráfico humano, violência e temas semelhantes são tratados com tanta sutileza que às vezes deixamos de perceber a crueldade por trás dos acontecimentos. Mesmo assim, em diversos momentos tive dificuldade de ler, tamanho o impacto das palavras de Yeonmi.

O desenvolvimento da história de Yeonmi é quase ficcional; tem momentos de aventura, romance e suspense. Todos os acontecimentos ocorridos em solo norte coreano soaram para mim extremamente parecidos com livros de distopia que já li. É inacreditável pensar que tudo isso esteja tão perto de nós, acontecendo neste exato momento, mesmo em um mundo com tanta tecnologia e (em sua maioria) liberdade.

Por muitas vezes refleti sobre os problemas que já tive na vida. Reconheço, após ler Para Poder Viver, o quão privilegiada posso me considerar por viver em um país democrático e livre (na medida do possível). Não consigo nem imaginar como é ser privado de todo e qualquer direito de escolher ou pensar por conta própria. E além disso, ter sua mente dominada por mentiras e sem a possibilidade de conhecer o mínimo do mundo exterior. É uma situação revoltante, e que só me trouxe um sentimento de impotência constante, por não saber como poderia ajudar mesmo que de forma ínfima.

Yeonmi é um exemplo de força e coragem, mas mais do que isso, é uma garota com suas inseguranças e seus defeitos, que foi obrigada a amadurecer de maneira bruta e cruel sem quase ter chance de dar a volta por cima. E é inspirador ver que mesmo com todas as circunstâncias apontando para o fracasso, essa menina conseguiu superar todo o inferno que passou e hoje luta para que seu povo um dia não pereça mais.

Não tem como não recomendar Para Poder Viver. É um livro para qualquer pessoa, pois todos precisam ter consciência do que se passa na Coreia do Norte, para que pelo menos possam ser gratos pelo que possuem. 

E eu espero um dia poder ver a libertação deste povo.

Beijos e até o próximo post :*

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