"Viver cada dia como se fosse o último" é uma tremenda baboseira

sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Imagem: Ales Krivec (Unsplash)


A gente sempre vê por aí, seja escrita naquele status do seu "amigo" no Facebook, ou num poste velho de uma rua imunda, até mesmo declamada por alguém que você conhece, uma frase mais ou menos assim: "Devemos viver o dia de hoje como se fosse o último". E meu Deus, como eu odeio essa frase (e todas as suas derivações). Sou uma realista com tendências pessimistas e um toque de paranoia, então, sempre espero pelo pior. Mas a verdade é que até eu sei o quão impossível é aplicar essa filosofia na vida cotidiana. Me diz, como você vai acordar às seis e quinze da matina (quando na verdade era pra estar de pé às seis), olhar pro espelho, cabelo desgrenhado, baba seca no canto da boca e declamar pra si mesmo: VOU VIVER ESSE DIA COMO SE FOSSE O ÚLTIMO! Me diz, como?

Porque, sejamos sinceros: quantos de nós amam seu trabalho? Quem ama bater cartão, dizer bom dia pro chefe que só te ferra, olhar todo dia pra cara das mesmas pessoas, sentar na mesma cadeira, olhar pro mesmo escritório com paredes acinzentadas, almoçar comida que não se sabe a procedência...? Quando se fica preso num cubículo por dez horas seguidas, é difícil ver a beleza de tudo. Tem pouca gente que tem sorte de não passar por isso, que trabalha por conta própria, faz uns freela, vive de blog, etc. Mas eu to falando do cara que não leva jeito pra essas coisas. Você, que diz pra gente viver a vida sorrindo, quer convencer esse cara que odeia o que faz e não tem muito pra onde correr (o Mercado tá brabo, camarada), que ele tem que pensar positivo, se achar o cara, e aí todo aquele inferno que vive na firma vai desaparecer? Uma ova que vai. Se ele morrer naquele dia, nada do que ele possa ter feito vai tornar a morte dele poética e bela, ninguém vai no funeral dele e dizer: "Olha, esse cara odiava o que fazia, mas tenho certeza que morreu feliz".

Sei lá, eu penso que a gente tenha que viver positivamente sim, mas na medida do possível. Acho que temos o direito de viver um dia ruim de vez em quando, quebrar alguma coisa na hora da raiva, gritar um palavrão porque demos uma topada com o dedinho na quina da cama... E não sorrir quando aquele sem educação esbarra em você no transporte público e esquece de pedir desculpas. Acho que a vida é isso; momentos incríveis, momentos péssimos. E viver o dia como se fosse o último não significa fabricar uma felicidade falsa só pra que outros achem que tá tudo bem contigo e que você é uma pessoa fantástica por estar sempre "de bem com a vida". 

Mas pode ser só o meu pessimismo falando.

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